Sobrevivendo a um ataque surpresa
- Alexandre Attard Bueno
- 17 de jun. de 2016
- 5 min de leitura

O questionamento mais comum é: Devo reagir a um ataque armado? Mas analise o que está em jogo. Algum objeto descartável e por ele colocaria em risco sua vida e de um terceiro? Ou estaria em risco o bem mais precioso que possuímos que é nossa vida? Neste caso, para nossos alunos, a resposta é evidente após seu primeiro contato com o CTB Korea.
Todos nossos alunos em Self Defense devem estar preparados para tomada de decisões com informações limitadas. Muito do sucesso em ações de defesa estão na determinação dos homens que executam a ação.
Se você não tem capacidade para agressividade, então você é um cidadão produtivo e saudável: uma ovelha. Se você tem capacidade para agressividade e não tem empatia por seus concidadãos, então você deve ser definido como um ‘sociopata’, um lobo solitário. Mas se você tem capacidade para a agressividade e amor por seus concidadãos, então você é um cão de guarda, um guerreiro, alguém que está no caminho dos heróis. “Alguém que entra no coração das trevas, contra qualquer medo humano e sai ileso". – D. Grossman
Há somente duas possibilidades aos fuzilamentos em massa ou atos de terror: As ovelhas pensam: "Graças a Deus eu não estava lá; Eu teria morrido”. Mas os cães de guarda pensam: "Se eu estivesse lá, eu poderia ter feito algo para impedi-lo”.
Ninguém pode planejar uma pronta resposta a um ataque surpresa como os que temos visto acontecer. Pode-se, no entanto, ‘pensar sobre como pensar’. Podemos nos fortalecer mentalmente para o caso de confrontarmos com esta situação e então fazer o que deve ser feito. Não vamos especular sobre nenhum evento específico, vamos apenas refletir sobre o que pensar.
Eu vi filmes sobre nazistas levando pessoas para a beira do buraco onde eram executados. Vendo o corpo cair a próxima vítima foi até a beira e o processo se repetia. Sempre me perguntei por que eles não reagiam. Acredito que estavam em choque e tinham esperança de que tudo acabaria bem se cooperassem.
A primeira coisa que se deve fazer em um tiroteio é descartar a falsa esperança que tudo pode melhorar se não fizer nada. “Se eu congelar como uma presa, talvez ele possa seguir em frente”. Há uma escola de pensamento entre algumas forças de segurança que orienta: Quando você está fora de serviço, você deve ser uma boa testemunha e não intervir. Mas então me responda o que você faz quando estão matando inclusive as testemunhas?
Depois de se livrar desta falsa esperança, você permanece na ação. A verdade é que suas melhores chances estão em uma rápida avaliação, planeje e tome a iniciativa de movimentar-se.
Qualquer aluno em Defesa Pessoal deve ter em mente três regras áureas contra um ataque surpresa:
1 - Aceitar o que está acontecendo. É da natureza humana evitar o que é desagradável e ignorar o que é incompreensível. Tenha a coragem de encarar a realidade.
2 - Enfrentar o desafio. Não importa quais as probabilidades, você precisa enfrentar o desafio. Nunca aceite uma situação sem saída.
3 – Manter-se em movimento e pensando. Milhões de pessoas passaram seus últimos momentos de vida paralisado pela confusão. Não seja contado entre eles.
Quando confrontado com violência a mente humana percorre nossa base de conhecimento buscando informações sobre como reagir. Isso é descrito por sobreviventes como "minha vida passou diante dos meus olhos." Neste momento seu cérebro está digitalizando estes dados. "Um homem com uma arma. Qual resposta para isso?”. Apenas a leitura deste texto o torna propenso a responder de forma eficaz. Imagine o que você conseguiria fazer com treinamento.
Os EUA possuem estatísticas sobre tiroteios, afirmando que, em geral, 85% das vítimas alvejadas por um tiro sobrevivem. Aqui temos uma lição importante: “Você não deve iniciar uma agressão e mesmo se for atingido, provavelmente não vai morrer. Se pode sentir dor, ainda pode lutar”.
Sua melhor ação imediata é de levar sua família para longe do perigo. Se você não é força de segurança, não tem o dever de agir e ninguém poderá culpá-lo por cuidar de sua própria família. Você pode se jogar no chão e proteger seus entes queridos com seu corpo, mas o que acontece se for baleado? Seus filhos podem assistir você morrer e isso os deixará desamparados.
Para o caso de ataque em ambiente fechado haverá ruído, fumaça e escuridão. As pessoas entrarão em pânico e tudo se tornará confuso. Aqueles que conhecem a localização das saídas de emergência e rotas de egresso terão vantagem. Os primeiros a reconhecer que há um ataque em andamento terão mais tempo para planejar e agir. E lembre-se sempre: “Consciência situacional é a habilidade de sobrevivência primária”. Reconhecer o problema é o primeiro passo na resolução do mesmo. O primeiro a mover-se, provavelmente, permanecerá ileso.
Mas e se o terrorista estiver em meu caminho? A meu ver, a opção é o que chamo de “inversão de predador-presa”. Armado ou (infelizmente) não, você deve planejar um ataque. Este não é um ato insensato de loucura, mas a única alternativa lógica ante a sua morte iminente e de seus entes queridos. Se você ainda não conheceu nosso sistema de defesa pessoal saiba que ainda é tempo.
Barulho, escuridão e confusão afetam os maus também. Haverá uma pausa para recargas, congestionamentos ou distrações. Aguarde friamente por estes momentos e esteja pronto para agir. Nosso lema é: Disciplina gera sucesso.
Mas mesmo armado pode ser que você não tenha chance. Os terroristas estão vestindo colete balístico e isso pode anular seu centro de massa dos disparos. Neste caso precisará chegar perto. E estando desarmado, não deve apenas esperar para morrer. Veja, eu posso levar um tiro tentando desarmar o agressor, mas prefiro olhar sob a perspectiva de que tomarei sua arma, além do que, se estamos em luta, meus familiares e outros poderão escapar. Eu tenho treinado para essa luta toda a minha vida e um terrorista não passa de um covarde armado. Aposto minha vida que vou ganhar.
Eu não posso imaginar como as famílias de mortos e sobreviventes de um ataque surpresa se sentem. Minhas orações à eles. Mas sei que, pior que a morte é o pensamento de que você poderia ter feito a diferença, mas preferiu não agir. O sentimento de culpa e vergonha seria eterno.
Não podemos nos esconder em bunker ou carregar armas suficientes para proteger a todos por toda parte, mas podemos reconhecer o perigo e evitá-lo. Podemos lamentar mortes de inocentes, mas não podemos mudar o que aconteceu. Vamos refletir sobre nossas aptidões e formação e nos preparar em defesa pessoal. Quando formos confrontados pelo mal, responderemos com o que treinamos e estaremos mentalmente preparados.
"A sorte favorece a mente preparada." - Louis Pasteur
Obrigado.
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